CHICAGO 2013/2014
31 de dezembro de 2013, 18:00 horas...
Nevando... Tudo lindo, branco, do jeito que eu gosto.
Tirei fotos o tempo todo... Feliz! Radiante!
Estava me sentindo privilegiada, 65 anos, boa saúde, nada me incomodando, disposição para caminhar quanto fosse
preciso, pois tinha um excelente
condicionamento, fruto da aplicação nos exercícios da academia de ginástica.
Tantas histórias de conhecidos com problemas,
tombos, doenças, mortes prematuras.
E lá estava eu curtindo tudo em seus mínimos
detalhes. Uma exceção. A idade não me afetando em nada.
De repente, um leve escorregão e tudo mudou.
Muitos acompanharam minha saga e já sabem dos
detalhes. Mas hoje é dia de recordação e vamos ver o filme novamente .
Uma esquina antes de um ponto de ônibus. Uma
rampa na calçada de acesso para deficientes, (lá tem em todos os lugares),
apenas um deslize, caí e apoiei o corpo com a mão. As pessoas em volta me
ajudaram a levantar, desconhecidos... Minha filha e meu marido,( a quem eu o
tempo todo recomendava cuidado, pois ele estava carregando uma caixa, e eu
sabia dos perigos, tanto que fiquei para trás, andando cautelosamente), se
voltaram, e viram a cena. Olhei meu braço e já sabia que o estrago tinha sido
grande. Torto e já inchando. Uma dor indescritível.
Tínhamos tentado de todas as formas pegar um
táxi. Ligamos para várias agências, fizemos sinal na rua e nada. Lógico, dia
31, véspera de Ano Novo.
A ideia era chegar em casa, esperar meu genro
voltar do trabalho e iniciaríamos nossa jornada de seis dias até Toronto,
passando por Detroit e outros lugares.
Ano Novo na estrada.
Tudo mudou... Contatos com o Seguro, novamente
procurando táxi para ir ao hospital e, enfim, a ambulância, a única opção.
Atendimento do seguro, nota dez. Sem problema. Atendimento no hospital,
excelente. O médico fez todo o esforço para obter sucesso no procedimento
escolhido: redução. De pronto ele avisou: não consegui totalmente. Para quem
não conhece, ele tentou colocar o osso no lugar. Não foi possível porque havia
fragmentos, então o encaixe não aconteceu. Esperar dez dias para ver o
resultado.
Passados os dez dias a sentença: cirurgia. E
agora? Fazer em Chicago ou voltar para o Brasil?
O mais adequado seria voltar para o Brasil e
realizar aqui, pois estando em casa a gente se sente mais segura.
Então
começou a segunda etapa da minha saga.
Resolvido
que iria operar no Brasil, começamos nossos contatos com a seguradora para
antecipação do retorno, então previsto para o dia 19 de janeiro. Iniciou-se uma
tortura chinesa. Primeiro aprendi que após qualquer procedimento médico, que
implique numa certa agressão e invasão,isto nos coloca sujeitos a ter uma embolia,
e no caso, a redução realizada era um deles. Outra coisa, não podemos entrar
num avião antes que se completem 90 horas. No entanto, para o seguro, era
necessário mais um cuidado, um médico tinha que assegurar que eu poderia entrar
num avião. O relatório apresentado pelo hospital que dizia que eu poderia
aguardar uns dias, podendo retornar ao Brasil para operar, não era suficiente.
Muitos telefonemas depois e conseguimos superar esta etapa. Vamos então marcar
a passagem. Meu seguro cobria o retorno antecipado. Mas para que simplificar se
podemos complicar? Durante cinco dias, telefonemas e emails foram trocados para
se conseguir a marcação da passagem.
Noites e
noites mau dormidas... Não se esqueçam que eu continuava com o braço quebrado e
o osso fora do lugar... as dores e o mau estar permanentes, principalmente a
noite. Durante o dia conseguia sair, fazer alguns passeios, quando o excesso do frio permitia.
Detalhe,
vivi em Chicago um dos piores invernos dos últimos trinta anos : -30 abaixo de
zero.
Pedi também
à seguradora que me colocasse na executiva, pois o desconforto do braço
quebrado era muito grande, e que fizesse o mesmo para o meu acompanhante, no
caso, o meu marido. O seguro possuía valor para esta alternativa. Nada! Eles
não marcavam a passagem.
Então
deu-se o milagre. Minha filha andando de um lado a outro do apartamento,
estressada, raivosa, foi aconselhada a colocar a reclamação no Facebook. Entrou
na página do Seguro, reclamou, contou a história e além disso colocou na página
dela. Muitos foram os comentários e as histórias que surgiram. Logo em seguida, o seguro manda uma mensagem
que iriam encaminhar o caso para o departamento responsável que faria o contato. No dia seguinte o contato foi feito
e, resumindo a história, consegui minha passagem na executiva, para meu marido não deram. Para compensar me
ofereceram um táxi que nos pegou na casa de minha filha e nos levou para o
aeroporto, e um táxi que nos pegou no aeroporto em São Paulo e nos deixou em
casa.
Isto tudo
para confirmar que nada se resolve neste país, sem briga, sem forçar que se
respeitem os nossos direitos. Se entregarmos os pontos fica tudo do jeito que
eles querem. Temos que gritar, espernear, ligar dezenas de vezes, não desistir
nunca. As redes sociais hoje são as grandes aliadas. Nela contamos nossos
dramas, outros aparecem pior que os nossos, e assim formamos um problema que se
agiganta e através disto conseguimos caminhos inimagináveis para nos ajudarem a
resolver questões, que na verdade, não precisavam de tantos empecilhos para
serem resolvidas, visto que o direito era inerente naquela situação.
No Brasil,
meu médico prontamente providenciou minha cirurgia em caráter de urgência,
visto que o tempo para o sucesso da mesma já estava perto de se esgotar.
Cirurgia feita, tudo correu bem, lógico que com o sofrimento acompanhado aqui
por muitos amigos, mas nada que não tenha sido superado.
Não vou
aqui citar o nome de Seguradora, porque não acho que seja o caso. Mas quero
deixar bem claro que tomaremos muito mais cuidado na escolha da mesma, numa
próxima viagem. Temos que saber
exatamente o que vamos ter em direitos, quando estamos fora do nosso país. Fora
de casa a sensação de insegurança é muito ruim. É necessário estarmos
tranquilos para curtirmos tudo que queremos lá fora. Isto não é possível sem um
bom seguro, pois é irresponsável sair mundo afora sem uma cobertura suficiente
e abrangente.
Seguro de
viagem deveria garantir um “porto
seguro” mas nem sempre isto acontece...
E assim
iniciei 2014! Já estamos em junho e ainda estou as voltas com fisioterapia para
recuperar o máximo possível de meus movimentos de mão e munheca. Está indo bem,
mas como diz uma fisioterapeuta amiga “igual papai do céu fez, nunca mais”.
Isto é uma grande verdade, mas me considero satisfeita com o resultado.
Podemos
dizer que passei a metade deste ano sem esquecer da minha mão direita, e isto
porque sou canhota, o que ajudou muito. Isto não é algo que se possa chamar de agradável.
No entanto, fico imaginando que poderia ter sido muito pior. Quedas são
imprevisíveis, uns caem mais que outros, uns têm fraturas que deixam marcas que
são irrecuperáveis, então tenho mais é que aceitar, contornar e seguir em
frente.
Uma coisa é
certa, o olhar pra frente, a força de vontade e a disciplina são as únicas
coisas que podem nos ajudar na superação. E lógico que também a estrutura ao
nosso redor é imprescindível.
Então bola
pra frente e força para continuar dando volta nos problemas, curtindo as
alegrias, aproveitando as oportunidades de ser feliz e com certeza ainda ver
muita neve, apesar de ter sido ela a causadora do meu “infortúnio”. Mesmo assim ainda quero rolar muito na neve,
mesmo que todos os que me cercam achem que eu desisti de correr atrás dela.
Não existe esta possibilidade. Neve é uma paixão de infância, de olhar nas fotos, ver nos filmes e sonhar em um dia estar no meio dela. O sonho foi realizado, trouxe um problema é certo, mas não tirou a sua beleza e esplendor. Até a próxima...
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